Tradição Católica! TEMPLÁRIOS!
Antes de mais nada: Calma. Um pedido de calma aos borrachos e frequentadores de pub's de sempre, acostumados com a sessão alcoólica deste singelo blog, por onde podem encontrar sabores e teores variados, das partes mais longínquas deste mundo. Um pedido de calma. Após uma longa pausa no desbravamento de cervejas, e nas próprias postagens em si, voltamos à nossa normalidade com mais pedradas, e principalmente, com o melhor do alcoolismo encontrado nos mercados, pub's e velhos bares de guerra. Para celebrar este pequeno retorno às atividades, nada melhor que uma cerveja especial.
A encontrei nesta sexta-feira (15 de junho) num excelente bar underground situado a uma quadra da minha casa. Lembro-me dos dizeres de banners ultras, encontrados em estádios europeus (como a Itália), com os seguintes dizeres: "Support Your Local Pub". Este bar, em especial, consegue não apenas a nossa fidelidade por conta do que ele é - virilmente falando - como também consegue nosso infinito apreço, uma vez que há uma infinidade de cervejas importadas em seu estoque. Coisas de Homens, compadres. Nos rendemos fácil à boas pelejas de futebol, assim como nos rendemos, principalmente, às excelentes cervejas disponíveis em prateleiras e freezers do velho cotidiano. E eis que encontrei este tijolaço: A cerveja Corsendonk Tempelier, uma belga que remete ao Tradicionalismo Católico e consegue evocar, via às chamas da Tradição, o espírito guerreiro da Europa secular; das batalhas; do vencer ou morrer; do Espírito Santo. Isto posto, meus nobres, para entender a Corsendonk Tempelier, é preciso recorrer mais uma vez ao processo histórico da coisa.
Criada em 1938, a cervejaria Corsendonk está situada na cidade de Oud-Turnhout, que fica na região da Antuérpia, ao norte da Bélgica. Contudo, a história da cerveja nesta região é extremamente antiga. Os monges de Corsendonk, originários da ordem suíça de Windesheim, não apenas elaboravam as famosas cervejas Corsendonk - em pleno século XVII - como também eram conhecidos por transcreverem livros, ensinarem o Latim, assim como propagarem estudos da Bíblia católica. O imperador Joseph II não estava contente com as atividades dos monges e mandou fechar a cervejaria Corsendonk, além de suas atividades extras, em 1784. Durante o lixo da Revolução Francesa (Sim, lixo!) de 1789, as propriedades de Corsendonk foram confiscadas e colocadas à leilão. E eis que no Século XIX, Florentinus Keersmaekers resolve dar continuidade à antiga cervejaria, reativando o processo de elaboração das bebidas. Ele consegue abrir a companhia em 1909, e na década de 30, há o ressurgimento da Cervejaria Corsendonk. As duas companhias "se fundem" em 1982 e bingo: Temos aqui uma cervejaria excelente, especialíssima no tocante às cervejas de caráter católico e de caráter tradicional, secular.
A Corsendonk Tempelier faz uma homenagem à Ordem dos Templários, tradicional ordem militar de Cavalaria da Igreja Católica Apostólica Romana, criada entre os anos de 1118/1119. A mítica Ordem dos Templários foi responsável por participações nas Cruzadas, nas guerras religiosas que atravessaram os velhos continentes ao longo dos dois séculos seguintes. Caracterizados por utilizarem uma belíssima cruz vermelha em seu peito, além dos trajes brancos sob as armaduras; os cavaleiros da Ordem Templária eram honrados, muito bem treinados em táticas militares, e sabiam como agir diante de circunstâncias adversas. Quando "oficialmente extintos" em 1312, migraram para a Península Ibérica (Espanha e Portugal) onde continuaram, daqueles países, suas operações honradas. Histórias à parte, temos aqui uma excelente cerveja, que consegue resgatar em seu corpo, o tradicionalismo de duas frentes históricas: A elaboração de cervejas pelos monges católicos belgas, assim como a Ordem dos Templários, histórica por si só. Tamanha combinação só pode resultar na vontade imensa de se desbravar tamanha cerveja imponente, de torque, rica em identidade e em sabor. E é o que faremos neste momento.
A Corsendonk Tempelier possuiu uma coloração forte, em tom de mel, opaca e espessa, onde a cerveja torna-se uma verdadeira obra-prima ao ser despejada no copo, parecendo uma espécie de creme de caramelo. Conta com uma excelente formação de espuma, muito consistente, que conta com coloração de leve tendência ao bege-caramelo. Em linhas gerais, a Corsendonk Tempelier preza pelo sabor frutado, com predominância de uvas passas e até um pouco do próprio caramelo, puxando para as tonalidades mais cítricas, como a laranja. Em sua totalidade, é uma cerveja mais adocicada, sendo propícia para uma degustação. Conta com malte de alta fermentação e um lúpulo consistente, que consegue segurar a sensação doce em seu final. Possui 6% de teor alcoólico, o que faz dela uma verdadeira pedrada à hooligan. A Corsendonk Tempelier é uma obra-prima. Uma Pale Ale extremamente refrescante, quando servida gelada, por causa de suas conotações que puxam para uma espécie de leveza, do equilíbrio entre o sabor adocicado e o cítrico, mas sem o prejudicial do exagero de tonalidades. Seu retrogosto puxa para essa tendência frutada, mas seu final é leve. É de ótima drinkability, o que torna esta Tempelier extremamente agradável em ser degustada: Não é pesada. A Corsendonk Tempelier segue o molde clássico e tradicional das cervejas belgas. Segue fielmente o traçado original - da elaboração cervejeira nos monastérios através dos monges - e mantém sua identidade Belga.
Identidade é um elemento extremamente importante em estilos de cervejas. Esta Pale Ale pode nos lembrar bem dos sabores das já desbravados Hoegaarden e Leffe, justamente por conta da complexidade maior no conjunto da obra, do cítrico, do adocidado na medida, das tonalidades que exigem mais dos nossos paladares em relação às cervejas casuais (Aquelas do cotidiano). É um tipo de cerveja que, por seguir a secular tradição belga dos moldes cervejeiros, destaca-se facilmente em relação à muitas outras opções do mercado; por seu sabor tradicional e tenro. Homenagem aos Cavaleiros Templários, nossa Corsendonk Tempelier reaviva a chama do Tradicionalismo Católico, e consegue, via invocação qualitativa, trazer mais do século XII ao péssimo tempo presente; este aqui ateísta e crentista. A Corsendonk Tempelier o faz, com a maestria e a precisação de um guerreiro Templário nas cruzadas. Acerta firme tanto em sabor, quanto em consistência, quanto em... Mentalidade.
Salud!