quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

40 anos de Brigate Gialloblú


Um grupo nascido em uma época de grande agitação da sociedade italiana, durante os deploráveis anos de chumbo. Trata-se da Brigate Gialloblú, famosa ultra do Hellas Verona, famosa por suas canções e suas variadas bandeiras azul & amarelas, que compõem as cores do estádio Marcantonio Bentegodi di Verona (Clique aqui). Desde a sua fundação, o combustível da Brigate Gialloblú sempre foi uma espécie de incansável motivação, que com o passar dos anos acabou se tornando o elemento fundamental que daria a força constante pra estes caras continuarem se superando e evoluindo. Filhos do final da década de 60, a Brigate Gialloblú não nasceu sozinha. Veio na esteira de um grupo anterior que havia no estádio, chamado "Club Fedelissimi 4" (ou "I 4 Fedelissimi"). Com a agitação política na Itália daqueles anos, adicionada com o tempero passional do sangue que os levam; a mudança de um grupo para o outro foi rápida. Em 1971, nasce a Brigate Gialloblú, cujo primeiro nome faz uma referência à Brigate Nere di Mussolini (Brigada Negra, do então primeiro-ministro Benito Mussolini, famoso por seu governo nacionalista). Desta forma, pode-se considerar a Brigate Gialloblú enquanto precursora da mentalidade política nas bancadas, além de ser uma das primeiras ultras italianas de cunho nacionalista, ou seja, ligada à extrema-direita, dentro do que ordena o senso comum.

O batismo dos caras é datado no dia 30 de novembro de 1971, quando utilizaram a alcunha Brigate Gialloblú Verona Calcio Club. Em sequência, no ano de 1972, foi confeccionada a primeira bandeira que levava o nome do grupo. Ainda nesta época, os ultras do Verona também começaram amizades com os Ultras Granata (Torino, grupo que havia sido fundado em 1969) enquanto que os Ultras Tito (Sampdoria) os convidaram a ir num jogo pra antiga curva sul do Luigi Ferraris, onde também nasce uma irmandade duradoura. Passados alguns anos, no dia 03 de outubro de 1976 aconteceu o primeiro episódio de turbulência envolvendo a Brigate Gialloblú, momento este em que nasce uma das mais profundas rivalidades deste grupo, no caso, com os caras do Bologna: Os "negros" contra os "vermelhos", uma alusão ao que seria a briga entre direita e esquerda no âmbito político italiano, ainda que os ultras do Bologna não sejam mais ligados à esquerda. Ainda neste ano, nasce uma das grandes amizades do cenário das arquibancadas européias, no caso, entre a firma do Chelsea e a Brigate Gialloblú. Eram os anos 70, logo o Stamford Bridge (Estádio do Chelsea) não era uma arena moderna. O local era completamente diferente, tinha uma outra atmosfera, com cara de estádio. Um dos temidos setores da cancha era o "The Shed End" (clique aqui), onde ficavam os torcedores que cantavam pelo Chelsea. Neste setor que apareceu uma bandeira da Brigate Gialloblú, como uma espécie de homenagem dos ingleses com os italianos. Em sequência, os Brigate levam uma bandeira da Grã-Bretanha ("Union Jack") na curva sul do Marcantonio Bergondi, sendo pioneiros em tal ato. Os ingleses do Chelsea levam, em seguida, cachecóis com listras amarelas e azuis além de bandeiras com dizeres "The Deadly Sinner Club" e "Hellas Army".

Foto: Brigate Gialloblú em 1974.


Banner da Brigate, no antigo Stamford Bridge. 1976.


Em 1977, ocorrem confrontos com os grupos ultras da Juventus, do Milan (a antiga Fossa dei Leoni) e com o Bologna, obviamente. O cenário ultra começa a ficar mais intenso com o final da década de 70, e os grupos pioneiros se adaptam às novas propostas de hooliganismo, mentalidade já presente nos próprios estádios ingleses. Já no final da época setentista, a Brigate Gialloblú cria aquele que seria o simbolo que a representaria nos anos seguintes: A escada com três graus, uma homenagem a rápida ascenção que culminou com o seu surgimento lá no ano de 1971. Chegam os anos 80, e com eles, uma década que presenciaria o crescimento e a expansão da mentalidade ultras por toda a Itália. No começo daquele período, a Brigate Gialloblú iniciou uma tendência que mesclava a irreverência ("humor" para alguns, "ofensa" para outros) com o desprezo e as depreciações ao adversário, no ato de torcer. À princípio, a Brigate não se mostrava imediatamente de direita, mesmo tendo nascido com a homenagem ao Mussolini em seu nome. Naquele período, haviam alguns torcedores chamados Rude Boys, que mostravam ideologia mais abertamente, por serem militantes de esquerda. Porém, o pensamento político da Brigate passaria por uma profunda re-adaptação nos anos seguintes. Na temporada 1982/1983, acontece um dos primeiros casos desta "irreverência" (Se é que pode-se chamar assim) através do racismo, contra um jogador chamado Uribe, onde atiraram uma banana em campo. No ano seguinte, tal fato viria a se repetir contra um jogador chamado Ferrer. É nesta temporada, em plena Série A, que nasce outra grande rivalidade do ultras Verona: Contra o Napoli. O ano é marcado por uma forte briga contra os torcedores do Milan, e também é marcado pela presença de um banner "Gruppo AntiJuve", contra a Juventus, honrando a então amizade com o pessoal Granata do Torino. A década de 80 teve também a expansão dos mais variados grupos, dentro do Hellas Verona. Podemos citar, no caso, a Vecchia Guardia (de 1982), a Gioventù Scaligera (1983), o Inferno Gialloblù (Que era formado pelos ex-Boys) e o grupo Verona Front. Entre alguns mais conhecidos fora a Brigate, haviam os Hellas Alcool (criado em 1981), e os já citado anteriormente Rude Boys (Únicos a carregar a ideologia de esquerda na curva). Não pode-se esquecer também da ASU - Associazone Stalle Umane - grupo que era tido como os mais mendigos da rapaziada, eram meio maltrapilhos, bebiam todas, mesclavam o casualismo das firmas ingleses com a "sujeira", ao mesmo tempo.

O Hellas Verona Football Club viria a ser campeão italiano da Serie A, na temporada 1984/1985. O título não apenas representa o ótimo futebol que o Hellas Verona desempenhava, como também representa o período dourado das ultras deste time, lideradas pela Brigate Gialloblu. Foi este título Entre um dos episódios famosos em que a Brigate Gialloblú acabou sendo envolvida, está aquele que representaria um dos episódios iniciais da saga-sem-fim de perseguição aos ultras e ao ato de se torcer. Criadas na ausência do estado, tendo que se defender em grupos dos demais grupos, as ultras italianas sempre representaram o ápice de uma mentalidade, exposta em algo muito maior do que o futebol. No caso, em 1987, a polícia italiana invadiu as casas de alguns dos principais líderes da Brigate Gialloblú. Na operação, 12 torcedores foram presos, sob acusações de ligações ao crime. Foi a primeira vez que um grupo de torcedores era considerado "de bandidos", na Itália. Também foi neste período em que o judiciário italiano passaria a querer resolver demais problemas internos do país, tais quais os casos das famílias mafiosas. Enfim, a polícia havia investigado a Brigate Gialloblú por algum tempo; e o motivo da prisão foi a simples destruição de carros na semana antecessora, quando o Verona jogou contra o Brescia; outro jogo de rivalidade. Na partida seguinte, um protesto da Brigate em jogo contra o Roma, com os seguintes dizeres: "Não 12, mas 5000 culpados".

Banner contra a Roma.

À partir dos anos 90, a vigilância seria mais forte pra cima dos fãs do Verona. A Itália começa uma série de medidas e leis, cujo objetivo era um maior controle e maior rigor sobre os ultras. A mídia estava completamente alarmada com o cenário das arquibancadas italianas, e as novas brigas entre a Brigate Gialloblu e seus rivais, a colocaram nas estampas dos jornais na temporada de 1990/1991. Após problemas envolvendo políticos, acusações das mais diversas, e muito do drama clássico feito por jornalistas descompromissados, a Brigate Gialloblu toma uma decisão. No dia 14 de novembro de 1991, pouco antes de seu aniversário de 20 anos, a BG anuncia a sua auto-dissolução, em conjunto com todos os demais grupos da curva suldo estádio do Verona. Os líderes deste grupo histórico diziam estar cansados, que não podiam ser sempre o bode expiatório para os problemas da política pública. Mais do que isso, enquanto líderes de uma Ultra, não podiam assumir as responsabilidades sobre o que os demais milhares de integrantes faziam ou deixavam de fazer no estádio, ou fora dele. Em jogo contra o Genoa, em casa, a Curva Sul se viu pela primeira vez vazia de torcedores fervorosos.

No primeiro jogo da Fiorentina contra o Verona, após este episódio, em Florença ("Firenze" em italiano); os então grandes aliados da Brigate Gialloblú - Ultras Viola - fizeram uma belíssima homenagem aos torcedores do Verona. Elaboraram no caso, uma coreografia com fundo amarelo, as letras "B" e "G" em azul, e uma bandeira com os dizeres: "Vinte anos de história não se apagam... Nossa honra a Brigate Gialloblú!". De acordo com Silvio Cametti, autor do grande livro "I Guerrieri di Verona", a Brigate Gialloblú era mais do que um simples agrupado de torcedores. Era uma espécie de benção para a província de Verona, para os amantes daquele local e daquele time. A Brigate Gialloblú representou uma peculiaridade de imensa importância para a mentalidade ultra na Itália. Com sua frase "Noi odiamo a tutti" (Nós odiamos a todos), eles estabeleceram marcos, quebraram paradigmas, e eleveram o sentimento ultra às últimas consequências, sendo até os dias de hoje, donos de uma unanimidade em meio aos italianos ultras: A Honra.
























Fontes Bibliográficas: Aqui, aqui, aqui e aqui.