quarta-feira, 27 de abril de 2011

DMX - It's Dark and Hell Is Hot (New York, EUA. 1998)



Uma história só é bem contada, quando a retratamos em capítulos. Assim podemos focar bem a atenção em determinados detalhes e aspectos, que certamente passariam desapercebidos ao nível macro. É assim com o rico rap norte-americano, dono de inúmeros capítulos, retratados em álbuns, singles, e shows. Quando converso com meus compadres, falamos muito sobre o rap gringo. Eventualmente o atual, mas especialmente o da década de 90, algo que já está soando bem batido neste humilde blog. Pois é compadres, acontece que existem trechos da década de 90 que ainda precisamos elucidar, contar e descrever, passo a passo. O final daquela década está entre uma destas intenções.

O final dos anos 90 foi muito confuso no rap norte-americano. Hoje, podemos perceber isso com maior clareza. Foi um tempo de pura entre-safra, momento em que o gênero musical precisava renascer. As mortes de Tupac Shakur (1996) e Notorious B.I.G (1997) trouxeram escombros, além de inúmeras questões e dúvidas às mesas das grandes gravadoras. Os espaços midiáticos deixados por aqueles dois grandes artistas, precisavam ser preenchidos. 2Pac e Biggie foram fundamentais ao talento, mas também foram fundamentais para a mercantilização do rap: Com os dois, as gravadoras descobriram a possibilidade de fazer muito, mas muito dinheiro. E dentro daquele mercado, mudanças estariam por vir. Logo, foi o momento chave em que alguns grupos de muito sucesso começaram a diminuir o ritmo para dar lugar a outros, momento chave em que outros rappers passaram a focar em novos estilos, e momento chave para o surgimento de novos nomes. Não tardou para que começássemos a presenciar a ascenção e estouro de gente como Jay-Z, Busta Rhymes, No Limit Records (Master P, Silkk The Shoker, C Murder), Big Pun, Ja Rule, outros demais, e... DMX.

Nova geração apontada pela revista The Source, em 1998.
Capa especial de três laminas



Daquela entre-safra, surgiriam estes nomes, que mudariam completamente o rap norte-americano ao longo dos anos 2000. Alguns nomes ainda estão em evidência, mesmo passada uma década; Big Pun morreu, outros nomes sucumbiram. DMX faz parte desta última lista, com o diferencial de ser um emcee extremamente versátil e talentoso. Seus últimos anos de carreira foram conturbados. DMX se envolvia em escândalo após escândalo, desde mal-trato de seus pit-bulls à questões ligadas a criminalidade. Porém, vamos falar dos tempos áureos, que começam por este álbum: "It's Dark and Hell is Hot" (Está escuro e o Inferno é quente), lançado em maio de 1998.


Earl Simmons nasceu no dia 18 de dezembro de 1970, na cidade de Baltimore, estado de Maryland, Estados Unidos. Cresceu no município de Yonkers, já no estado de Nova Iorque. Em 1984, DMX começou a praticar beat-box. O apelido veio justamente de uma bateria eletrônica chamada "Oberheim DMX", com a qual ele lidava, ainda na juventude. Sua carreira, porém, só começaria a ser consolidada no início da década de 90, quando conseguiu contrato com a Columbia Records, e lançou um single no ano de 1992, chamado Born Loser (Nascido Perdedor). O single não fez muito sucesso, e naquela época, a Columbia estava focando todo o seu trabalho com o sucesso de outros artistas, tais quais o Cypress Hill, NaS, entre outros. Isso fez com que DMX caísse fora, para que ele lançasse um segundo single, independente, em 1994, chamado Make a Move (Faça o Corre). Um single poderoso, muito bem trabalhado, com sample setentista dos grandes dias do Funk/Soul da música negra. Crescendo à todo vapor, em 1995, DMX faz sua primeira participação em um som, ao lado dos então desconhecidos Ja Rule e Jay-Z no disco de Mic Geronimo, intitulado The Natural. Porém, foi em 1997 que DMX começou a ganhar maiores espaços, participando nos álbuns dos rappers nova-iorquinos LL Cool J (The Phenomenon, Def Jam, 1997), Mase (Harlem World, Bad Boy Records, 1997) e The Lox (Money, Power, Respect; Bad Boy Records, 1997). Naquele ano, estes artistas estavam fazendo um barulho enorme nas ruas americanas, além de terem o forte apelo promocional da Def Jam e Bad Boy, respectivamente. Foi o necessário para dar ao DMX o alcance que ele tanto precisava. E conseguiu. Earl Simmons assina contrato com a Def Jam, e ganha a oportunidade de lançar seu tão sonhado álbum de estréia.

Durante o período de gravação de It's Dark and Hell is Hot, DMX trabalhou com uma equipe muito talentosa de produtores. Entre eles, os destaques ficam com Irv Gotti, Swizz Beats, e Dame Grease; que cuidou da maioria dos beats. Com exceção de Irv Gotti, que já estava com boa reputação graças aos trabalhos com Jay-Z em Reasonable Doubt, os dois últimos eram mais desconhecidos, o que torna o álbum It's Dark and Hell is Hot mais mítico. Foi uma estréia completa, de um emcee talentoso, e de produtores talentosos. O resultado, foi uma composição completa de violência, ares sombrios, letras aguerridas, no que se tornou uma espécie de renovação do próprio Hardcore Hip-Hop tão característico da cidade de Nova Iorque. É possível perceber, em cada uma das 19 músicas, a evolução do gênero, com uma sonoridade mais limpa, distanciada dos samples chiados, equilibrando a pancadaria, o festivo, e o terror, em uma ampla e única atmosfera.


DMX começa arregaçando na primeira faixa, chamada Intro, uma das mais obscuras do álbum, com sinos e sinetas, numa produção espetacular. A música Intro é um prelúdio, um convite à violência lírica, perfeita para o nome. A segunda faixa, Ruff Ryders Anthem, virou um ícone das baladas e casas noturnas. Quem não conhece o DMX, poderá reconhecê-lo nesta música. Uma das melhores faixas noturnas já produzidas até então, com um refrão viciante; que fala sobre o modus operandi da banca Ruff Ryders, selo de DMX, que trabalhou na elaboração deste álbum. Diga-se de passagem, em comparação com a violência verbal de muitas músicas, as faixas Ruff Ryders Anthem e How It's Goin Down (Assim que se faz), que fala muito bem sobre as mulheres, são as mais "leves" deste disco. How It's Goin Down chega a possuir um nível épico, se você deixar rolar no carro, enquanto dirige; ou no mp4 enquanto sai na rua, a música flui numa boa. Em linhas gerais, para o excelente compreendimento deste álbum, é preciso entender que ele reflete todo o período de juventude e crescimento de Earl Simmons. Isto posto, não é apenas seu disco mais violento, como também é seu trabalho mais introspectivo. Músicas um tanto transcendentes, como a genial Let Me Fly, que possuem um apelo instrumental dos clássicos sintetizadores em linhas sonoras mais melancólicas, exigem cérebro para percepção. DMX arregaça nos versos, por onde ele afirma que não pode ou não consegue fazer sucesso, porque a vida o impede. Um anjo sem asas, pedindo para voar. Contraponto forte com a faixa seguinte, X Is Coming, cuja narrativa extremamente mafiosa nos remete à truculência um tanto siciliana; por onde Earl Simmons não pouparia sequer a filha de 15 anos daquele que consideraria seu grande inimigo. Outra faixa interessante, é Damien, onde X conversa consigo mesmo, uma espécie de alter-ego, sobre as situações cotidianas do gueto.

Um dos momentos geniais, épicos e transcendentes em meio ao vandalismo terrorista de It's Dark and Hell is Hot é a música "I Can Feel It", que sampleia o clássico "In The Air Tonight", de Phil Collins, 1981. O clássico de Collins ganhou proporções inimagináveis com o seriado Miami Vice, no ano de 1984. Clique aqui para ver este momento épico, viril, por onde a música de DMX buscou inspirações, ao trabalhar justamente este momento noturno de brisa, de madrugada, de tudo ou nada nas pistas da vida. I Can Feel It é mais uma introspecção de seus momentos, de seus dias ora infernais, ora bons; que ajudam a enriquecer um trabalho forte que é este álbum, impactante, algo descrito como um clássico instantâneo das ruas. Em outro momento, Crime Story, os ouvintes de rap nacional irão reconhecer parte do instrumental. Fica o segredo. Uma faixa excelente, que puxa o blues de forma incrível, apenas nos bongôs e no baixo; por onde Simmons descreve um episódio criminoso de sua vivência. De uma forma geral, o It's Dark and Hell is Hot conta com ótimas participações dos rappers do grupo The Lox, além de Ma$e, e outros participantes da banca dos Ruff Ryders. Atingiu o topo das paradas, tanto no quadro dos 200 da Billboard, como no quadro dos Top R&B/Hip-Hop Albums. O trabalho é inteiro excelente, e vale a pena, para quem não conhece o DMX. Aqui começava sua grande jornada no mundo do entretenimento, musical e cinematográfico, muito antes do mesmo cair na sarjeta da vida, ao envolver-se em escândalos.

Menções honrosas: Let Me Fly, I Can Feel It, Ruff Ryders Anthem, How It's Goin Down.

01 - Intro
02 - Ruff Ryders Anthem'
03 - Fuckin' Wit' D
04 - The Storm (Skit)
05 - Look Thru My Eyes
06 - Get at Me Dog (feat. Sheek of The Lox)
07 - Let Me Fly
08 - X-Is Coming
09 - Damien
10 - How's It Goin' Down
11 - Mickey (Skit)
12 - Crime Story
13 - Stop Being Greedy
14 - ATF
15 - For My Dogs (feat. Big Stan/Loose/Kasino/Drag-On)
16 - I Can Feel It
17 - Prayer (Skit)
18 - Convo, The
19 - Niggaz Done Started Something (feat. The Lox/Ma$e)
20 - Ruff Ryders Anthem' (Live)


GEAH!
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