domingo, 17 de abril de 2011

DJ Quik: Safe + Sound (Compton, Califórnia, EUA. 1995)

Após uma semana conturbada, nada melhor que a boa e velha sonoridade californiana para relaxar no fim de semana. E dentro daquele estado, sempre rico musicalmente, nada melhor do que o grande G-Funk da década de 90, anos que representaram o auge daquele gênero. Falar do Gangsta Funk, sempre nos remete ao condado de Long Beach City. Mas o condado de Compton também representou o gênero de forma bem consistente, com uma característica muito própria. Assim posto, vamos falar deste, que foi um dos grandes álbuns de Hip-Hop já vistos: Safe + Sound (São & Salvo), de DJ Quik, lançado em 1995.


Falar de Quik é sempre muito gratificante. Suas músicas, sempre muito bem instrumentalizadas, também são guiadas por sua própria voz, ritmo e levada. É raro vermos, entre todo o cenário musical, uma pessoa que produza sua própria música, com os devidos toques, e as cante. É o caso de David Blake, que nasceu no dia 18 de janeiro de 1970, no condado de Compton, Califórnia. Nasceu e cresceu naquele local, e assim como muitos outros rappers que viriam a surgir, passou a se identificar com todo o processo que a música rap vivia naquela Los Angeles de meados dos anos 80. Quando David Blake estava no primeiro ano do ensino médio, ganhou uma turntable, específica para DJ's fazerem seus scratches e desenvolverem trabalhos electros. David começou a treinar, e se tornou um bom DJ, ganhando a alcunha de "Quik" (Rápido, em português), que descrevia como ele trabalhava de forma veloz, sem perder a qualidade. Já no ano de 1987, começou a vender mixtapes, gravadas de forma caseira, com suas músicas. Entre uma destas mixtapes, estava a notável The Red Tape (A Fita Vermelha). Durante os anos 80, DJ Quik havia sido apadrinhado por um set dos Bloods, residentes aonde ele morava: Eram os "Tree Top Pirus" (Pronúncia “tri tóp pairus). No caso, a Fita Vermelha era uma alusão clara à eles, vide a cor utilizada.


Acontece que em uma destas mixtapes caseiras, não se sabe se foi a Red Tape; DJ Quik fazia ataques à rappers que surgiram pelos Crips, posse rival dos Bloods. Entre estes rappers estavam Eazy-E, com quem ele mais tarde viria a trabalhar; e MC Eiht do Compton's Most Wanted. Este último estava surgindo no cenário no final dos anos 90, e para entendermos a história completa do surgimento da briga que envolvia MC Eiht e DJ Quik, leia esta entrevista, devidamente traduzida; com os dois lados esclarecendo a questão.


Graças à este trabalho underground com as mixtapes, DJ Quik conseguiu contrato com a Profile Records, uma subsidiária da gigante Arista Records, e logo em 1991, lançou seu primeiro disco: Quik Is The Name (Quik é o Nome), que contava com grandes sucessos tais quais a excelente Tonite e a Born & Raised In Compton. E foi aquele ano, entre 1991 e 1992, o momento de colisão com o grupo Compton's Most Wanted (de MC Eiht), que havia lançado um disco chamado Straight Check'Em; onde uma música chamada Def Wish teria uma linha direcionada à DJ Quik. MC Eiht negou o fato, mas com todo aquele comentário nas ruas, com o fato de Quik ter tirado o Compton's Most Wanted em uma fita underground, a briga estava surgida. A descrição deste cenário é de suma importância para a completa compreensão deste álbum, Safe + Sound. No ano de 1992, DJ Quik lança o disco Way 2 Fonky (Caminho Funkadélico), onde na música de mesmo nome, ataca MC Eiht e o rapper nova-iorquino Tim Dog, que estava desrespeitando o condado de Compton com o som "Fuck Compton". O disco consolida DJ Quik como um grande produtor, sendo seu segundo solo, mostrando uma boa evolução em relação ao trabalho anterior de 1991. MC Eiht entraria em definitivo na briga com DJ Quik, ainda em 1992, ao lançar as músicas "Duck Sick II" e "Def Wish II", pelo Compton's Most Wanted; e ao lançar a Def Wish III no seu disco solo de 1994.


DOLLAZ & SENSE: DEATH ROW RECORDS


Durante este período de respostas de MC Eiht, Quik não havia lançado nenhum disco. Eiht estava com tudo, havia participado do filme Menace II Socienty (Perigo para a Sociedade), e seus discos estavam vendendo bem. Cada disco do MC Eiht será devidamente muito bem falado aqui, pois iremos contar a história focando em cada capítulo. O fato, é que durante os anos de 1993 e 1994, DJ Quik se aproximou muito da Death Row Records, que estava à todo vapor. Como muitos sabem, a Death Row Records era comandada por Suge Knight, que cuidava de toda a produção executiva de seus artistas (Snoop, Dre, Dogg Pound, Lady of Rage, etc). Suge Knight era um Blood, assim como Quik, só que dos M.O.B Pirus de Compton (Pronúncia “M-Ow-Bi Pairus); e portanto passou a assistenciá-lo com gerenciamento de músicas. Não tardou para que em 1994 DJ Quik lançasse uma das maiores diss records já vistas, até então: A música Dollaz & Sense (Gíria pra "Dinheiro Faz Sentido"), que estava na coletânea Murder Was The Case, lançada no final de 1994. O som tomou de assalto as ruas. Escrita inteira por G-One, e cantada por DJ Quik, a letra tirava Eiht de tempo, especialmente no trecho:

"E-I-H-T, now should I continue?
Yeah, you left out the G coz the G aint in you"


"E-I-H-T, agora, será que continuo?
Yeah! Você deixou o “G” porque o “G” não está em você"


Uma referência clara ao fato de MC Eiht (Que seria "MC Eight", sendo Eight o número Oito em inglês) ser escrito sem a letra "G", que faz alusão ao mundo Gangsta. Isto posto, a música Dollaz & Sense estabeleceu DJ Quik como um verdadeiro fenômeno, diante de uma produção de alta qualidade, dançante e funkadélica. As rádios tocavam, e foi a grande virada de jogo de DJ Quik. Se formos analisar friamente, o lançamento de Dollaz & Sense pela coletânea Murder Was The Case, da Death Row Records, foi instrumento primordial para a pavimentação do terceiro disco solo que DJ Quik estava pra lançar, no caso, o Safe + Sound. Aquela música era um dos singles poderosos do disco, e ao antecipá-la em uma coletânea de uma gravadora que dominava o cenário do rap norte-americano naquele momento; ao lado de rappers como Snoop Doggy Dogg, Dr.Dre, Sam Sneed, Dogg Pound e Nate Dogg; DJ Quik teve seu nome bem intensificado. Atingia o topo da montanha, ao mesmo tempo em que devolvia ao grande MC Eiht, uma resposta musical que o deixou desnorteado. Até então, Eiht estava acabando com DJ Quik, especialmente se considerássemos as músicas Def Wish II e III. DJ Quik alterou tudo isso, colocando pólvora no incêndio, e colocando todo o jogo em seu favor.

Enfim, agora temos toda a base de compreensão, para entendermos o fenômeno do terceiro disco de DJ Quik, Safe + Sound. O título, São & Salvo, faz duas referências: O fato de Quik estar consolidado, financeiramente, graças a suas músicas, e o fato de estar aliado ao Suge Knight. Portanto, lançado no dia 21 de fevereiro de 1995, o álbum alcançou a posição de número 14 entre os 200 da Billboard, logo no dia 11 de março de 1995. É um disco muito rico, muito bem produzido, com uma sonoridade limpa, de alta qualidade, mesclando sintetizadores, baterias, baixos, guitarras, dando a perfeita combinação entre a sonoridade clássica do rap produzido eletronicamente, com a instrumentalização aberta, ao vivo. Obviamente que DJ Quik cuidou de toda a produção, nos mínimos detalhes. Contou com produção executiva de Suge Knight, da Death Row Records, gravou as músicas na Death Row Records, mas por causa de questões contratuais, lançou o trabalho pela Profile Records, a subsidiária da Arista, com quem DJ Quik tinha compromissos a honrar. Por sinal, existem diversas músicas de DJ Quik, gravadas na Death Row Records, durante os anos de 1994, 1995 e 1996, que jamais foram lançadas. Músicas com 2Pac, 2nd II None, entre outros artistas, que ainda estão nos cofres musicais daquela gravadora, e que os fãs anseiam para ouvi-las.

Basicamente, o Safe + Sound conta com três singles poderosos: A música de mesmo nome, Somethin 4 Tha Mood (Algo pra Escória), que desce a lenha nas mulheres interesseiras, e Dollaz & Sense, que desce a lenha no MC Eiht. Atinge a perfeição em Summer Breeze (Brisa de Verão), que fala sobre o passado, sobre os momentos bons, e inclusive homenageia os amigos que já se foram; e causa ótima impressão com “Keep tha P in It”, um dos melhores G-Funks que já ouvi em minha vida, com uma excelente instrumentalização ao vivo. A guia do baixo, no melhor estilo “George Clinton”, os sintetizadores e pianos, dão todo o ritmo funkadélico, cujo ritmo é conduzido por excelentes rappers, tais quais Kam, 2-Tone, 2nd II None, Playa Hamm e Hi-C. Mais deste tipo de instrumentalização podemos presenciar em Quik’s Groove III, sem cantorias, perfeita pra relaxar em qualquer rolê de carro, seja em um simples bairro, ou em uma estrada qualquer. Enquanto isso, músicas como Tanqueray, Sucka Free, Diggin U Out, apelam ao velho funk à moda antiga, onde é possível percebermos que o sample fala mais alto em relação à instrumentalização proposta em outras músicas. DJ Quik também arranja tempo parta continuar destruindo MC Eiht, na música “Let You Havit”, faixa seguinte da Dollaz & Sense. A versão original desta música contava com a participação de 2nd II None, onde um dos membros inclusive atacava o grupo irlandês House of Pain. Esta versão, entretanto, ainda está nos cofres da Death Row Records.

Pra muitos fãs do rap californiano dos anos 90, o disco Safe + Sound foi o melhor trabalho de DJ Quik. Se você quer conhecer mais sobre o G-Funk, busca ter uma aula sobre o que é este ritmo, como ele se desenvolve; e pretende entender a síntese do rap californiano daquela década, o Safe + Sound é uma excelente escolha. Infelizmente, revistas como a The Source atribuíram apenas a nota de meros “4 microfones” (do total de 5) ao disco. Uma pena, pois mal sabiam eles que estavam diante de um verdadeiro clássico de Compton, álbum que viria a ser o melhor trabalho da carreira de um DJ Quik mais “Blood” do que nunca, agressivo, sarcástico e funkadélico, devidamente assessorado por Suge Knight, homem que sabia extrair o melhor de seus artistas.

Menções honrosas: Dollaz & Sense, Safe & Sound, Summer Breeze, Let You Havit, Keep Tha “P” In It, Quik’s Groove III, Somethin 4 Tha Mood.


01. Street Level Entrance
02. Get at Me
03. Diggin' U Out
04. Safe & Sound
05. Somethin' 4 tha Mood
06. Don't You Eat It! (Interlude)
07. Can I Eat It? (featuring Crystal Cerrano, G-One)
08. Itz Your Fantasy (featuring Dionne Knighton)
09. Tha Ho in You (featuring Hi-C and 2nd II None)
10. Dollaz & Sense
11. Let You Havit
12. Summer Breeze (featuring Dionne Knighton)
13. Quik's Groove III
14. Sucka Free (featuring Playa Hamm)
15. Keep tha "P" in It (featuring Kam, 2-Tone, Hi-C, Playa Hamm and 2nd II None)
16. Hoorah 4 tha Funk (Reprise) (featuring Garry Shider)
17. Tanqueray (Bonus Track)

YES!